Os melhores livros que li em 2020

Janeiro sempre é aquele mês do ano em que paramos para pensar no ano que passou, fazemos balanços e estabelecemos novos objetivos.

Em se tratando de leituras, eu sempre revejo todos os livros que li. Não faço contas de páginas, autores de qual nacionalidade, autores mulheres, etc. Talvez devesse, mas como dificilmente estabeleço metas (quando ouso estabelecer, me frustro por que não as cumpro), somente revejo se li com a mesma frequência de anos anteriores. Mas adoro listas de melhores do ano. Vejo todas, dos leitores e escritores que admiro e as guardo com carinho.

Assim, sempre me arrisco a fazer minha lista de melhores que li. Minha escolha sempre é guiada pela emoção. Revejo os títulos e minhas anotações e relaciono, sem qualquer ordem, aqueles livros cujas leituras me marcaram e daqueles que até me lembram da emoção sentida ao lê-los.

Em 2020, nosso enorme ano pandêmico, li cerca de 70 livros. Eis os meus favoritos.

Tanto já foi escrito e falado sobre esse livro do jovem escritor baiano Itamar Vieira Junior, Torto Arado, que merecidamente ganhou os maiores prêmios brasileiros de literatura. A história, que se passa no sertão baiano, é centrada na relação de duas irmãs, mais unidas ainda desde um acidente doméstico. O texto relata uma dura realidade e mesmo assim consegue ser muito poético e lindo de ler.

“Quando sento quieta para costurar uma roupa velha ou levanto a enxada para devolvê-la de novo ao chão, abrindo covas, arrancando as raízes das plantas, é que esse fio, que tem sido meu pensamento, vai se fazendo trama.”

“Sofrer, esse sentimento difícil de exprimir e rejeitado por todos, mas que a unia de forma irremediável a todo seu povo.”

Difícil expressar a multiplicidade de sentimentos que a leitura do livro me despertou. Daqueles livros que você termina a leitura e seus personagens continuam te acompanhando por um bom tempo. Belonisia e Bibiana, duas irmãs inesquecíveis. Fortalezas femininas.


Mais um daqueles livros que continuam a me acompanhar. Pécola, mais um personagem feminino, que reúne sobre si tantos preconceitos e tantos acontecimentos que vemos todo dia ao nosso redor.

Dessa forma, tão bem coloca Tainá Scartezini em sua resenha do livro:

“Uma mulher negra revira a lixeira. Procura algo: um objeto descartado, restos de comida, talvez. Enquanto mexe no lixo, fala sozinha, repete uma história que a cada nova enunciação fica menos pontuada, menos espaçada, mais fragmentada. Encontramos com essa mulher pelas ruas de muitas cidades: Rio, São Paulo, Lorain, insira aqui a sua também. Em São Paulo, de onde escrevo, no trajeto entre minha casa e a padaria mais próxima, vejo mais de uma. O que aconteceu com ela para que ficasse assim? O que aconteceu conosco para que a deixássemos assim? É no espaço vazio deixado por perguntas como essas que Toni Morrison (1931-2019), professora emérita da Universidade de Princeton, tece a narrativa de O olho mais azul.

A autora ganhou o Pulitzer em 1988 por sua obra Amada e recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1993, sendo a primeira, e até o momento única, mulher negra laureada na categoria. Seu romance de estreia, O olho mais azul, publicado originalmente em 1970, conta a história de Pecola Breedlove, uma menina de 11 anos traumatizada pelos perversos efeitos do racismo e da desigualdade social. Essa garota se tornará uma dessas mulheres.”


Um releitura de um livro que é um soco no estômago, e que me deixou ainda mais abalada que na primeira leitura. E com certeza esse ano continuarei a reler Jorge Amado, pois me espantei com a atualidade de sua obra e como seu olhar era bastante amplo sobre uma realidade que, agora com a maturidade, consigo enxergar.

Falo extensamente sobre Tereza Batista Cansada de Guerra num post anterior que pode ser lido no blog.


Uma obra prima mais atual impossível. Acredito que a cada releitura, esse livro ganha novas perspectivas.

Dessa minha última leitura, me marcou a forma como o povo foi manipulado por forças políticas, sem saberem direito o que uma escolha ou outra representava. Certamente fiquei triste com esse sentimento: O Alienista é de 1882 mas me soou tão atual que chegou a doer. Não parece que o poder hegemônico continua a manipular o povo na forma de supostas insurreições messiânicas? E não parece que essas acabarão nos pondo novamente no status quo ou, pior, rumo ao retrocesso? Talvez não seja o diagnóstico intencionado por Machado, entretanto estou certa de que é possível, graças ao que temos vivido nesses dois últimos anos.

Outro autor, que ao reler ganhou outra importância. E que certamente darei preferência em minhas escolhas desse ano de 2021.


Me considero uma leitora precária de livros de ficção histórica, onde fatos reais ambientam um relato ficcional, pois sinto que tenho uma formação muito fraca em história.

E aí quando me deparo com um livro tão envolvente quanto esse, vejo como tenho que mergulhar mais na história, principalmente na nossa. Fundamental para entender o hoje.

Neste livro temos dois personagens principais, um diplomata que vive no século XXI e outro um jesuíta mandado para o Brasil, para Terras paulistas, no século XVII. E o entrelaçar das duas histórias é o mote do livro.

Um livro espetacular tanto em forma como em enredo. Mais uma vez, fico triste ao constatar que vai século e vem século e os vícios da terrinha não mudam.


A autora vai contando em pequenos trechos o que acontece numa favela. Com muita poesia e sem perder a ternura jamais, a escritora revolve a trajetória dos que saíram da senzala para habitar os becos de nossa modernidade. Fala de pessoas e suas vidas. Ao final da leitura, eu me sentia como uma vizinha dessas pessoas, cujos sentimentos eu conhecia tão bem. Inevitável não lembrar de passagens do livro “com olhos rasos d’agua” - como diria minha avó. Uma autora a ter um lugar de destaque em nossas vidas.

Dediquei todo um post a essa autora, que li pela primeira vez nesse 2020, e pode ser lido no blog.


Quadrinho autobiográfico onde o autor conta sua história com sua esposa. Uma história de amor, permeada pelo HIV. Uma situação complexa, contada com muita sensibilidade. Uma leitura com um tema que eu nunca antes tinha visto contada na literatura. O final é de uma beleza inenarrável. Falei mais extensamente sobre esse lindo livro em post anterior que pode ser visto no blog.


Difícil seleção em um ano de leituras ótimas, pois em 2020 me tornei uma leitora que abandona livros que não me fisgam. Há livros para serem lidos e decidi que não sou obrigada a ler nada que não esteja no meu momento, mesmo sendo um ícone ou grande obra.

E assim pretendo levar meu 2021. Aquele olhar para a estante, tanto física como virtual, e a escolha mais que aleatória do que irei ler.

Também decidi que não irei me culpar por comprar ou ter mais livros do que jamais conseguirei ler na vida. Certamente, minha pequena biblioteca é o melhor retrato que posso deixar de mim mesma. Lidos e amados, ou não lidos e muito desejados, compõem esse meu retrato.

Que tenhamos um ano de 2021 o mais alegre e esperançoso possível! E claro, sempre bem recheado de lindas leituras, tanto aquelas que colocam uma lente de aumento na realidade quando daquelas que nos levam longe dela.

Feliz 2021! Continuemos em casa ainda quando possível, mas que continuemos bem. Até a próxima!


PS: a lista completa de minhas leituras de 2020 pode ser vista na minha página do Facebook

📚Heloiche Lê
 

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