E começa 2020! Um ano novinho em folha para que possamos fazer novos planos.
Para mim, sempre uma nova esperança de diminuir a pilha de livros a ler, o que dificilmente acontece. Começo o ano com 50 e termino com 80! Mas claro, vale a promessa de que em 2020 será diferente!
O que li no apagar das luzes de 2019, em férias numa praia linda, cercada da família e de muitos risos de crianças queridas.
Comecei com a leitura de uma autora italiana que há muito esperava. Depois de ler Elena Ferrante, autoras italianas quando comparadas a ela me despertam muito interesse. E foi o caso de Milene Agus, e seu livro Uma certa história de amor.
Uma certa história de amor foi publicado inicialmente em 2006 e chegou ao Brasil em 2018, publicado em mais de 15 países.
O título em português e a resenha da editora não fazem justiça à estória sensível e linda de uma mulher que, sendo jovem na Itália moralista dos anos 1940, não consegue se enquadrar nos padrões vigentes justamente por estar sempre em busca do grande amor - ou aquilo que ela imagina que seja um grande amor.
Escrito em primeira pessoa, é narrado por uma neta criada pela avó paterna que é o foco da história.
"E minha avó pensava sempre que o amor é uma coisa estranha, pois se ele não quer chegar, não chega, nem com a cama, nem com as delicadezas ou as boas ações, e que era estranho que precisamente não houvesse meio de fazê-lo chegar, da maneira que fosse, o amor, que era justamente a coisa mais importante do mundo."
E essa procura norteou a vida da avó e dos pais da narradora, que viviam em função de seu amor à música e corriam o mundo para divulgá-la.
Esse livro foi adaptado para o cinema. O filme se chama Um instante de amor e vale a máxima do filme ser bem menos apreciado que o livro, principalmente se você o vê com a leitura ainda latente em sua cabeça. Me pareceu outra história com nuances machistas, o que para um livro tão feminino não encaixou muito bem.
Uma boa leitura para início de ano e reflexões que fazemos sobre decisões tomadas e futuros planos, que quase sempre envolvem paixões. E que venha mais autoras italianas. Sugestões? Me indiquem.
A outra leitura que quero dar destaque aqui é uma fábula das mais lindas que li: A mercadoria mais preciosa, de Jean-Claude Grumberg.
Esse pequeno livro de cerca de 70 páginas, que pode ser lido de uma sentada mas que deve ser apreciado lentamente. Paradas necessárias são feitas para que ganhemos fôlego e muitas vezes para enxugar uma lágrima.
O autor, importante dramaturgo francês, cria uma narrativa que prende o leitor com a doçura da escrita e a tensão de um ambiente hostil. Personagens sem nome e época não datada, mas facilmente compreendida como a segunda guerra mundial e seus horrores.
Muitos irão dizer - mais uma história de holocausto, estou cansado - mas não deixe essa passar.
No ritmo de fábulas clássicas, Grumberg vai tecendo uma comovente história de amor, superação e crueldade. Como disse acima, com personagens sem nome, designados pela sua representação social, conta a história real de uma coletividade e de um mundo em guerra.
Um trem que corta uma gélida floresta onde vive um casal de lenhadores é interpretado pela sonhadora e humilde mulher como sendo de felizes viajantes. Acreditando que estão em viagem, a pobre lenhadora sempre espera algum presente desses "felizes" viajantes que diminua a sua situação de miséria. É aí que sua perseverança é presenteada com uma "mercadoriazinha" que muda completamente sua vida.
Fábula tocante e que nos traz um fio de esperança baseada no amor inato entre seres humanos. Amor acima de qualquer intolerância.
"É isso a única coisa que merece existir nas histórias como na vida verdadeira. O amor, o amor oferecido às crianças, às suas como às dos outros. O amor que faz com que, apesar de tudo que existe, e de tudo o que não existe, o amor que faz com que a vida continue."
E assim terminou meu ano de 2019. Pleno de amor nas leituras, o que traz mais esperança para 2020!